Vicente de Paulo
Vicente de Paulo-Expoente da Codificação
São Vicente de Paulo nasceu em uma Terça-feira de Páscoa, em 24 de abril de 1581, na aldeia Pouy, sul da França. Vicente foi batizado no mesmo dia de seu nascimento. Era o terceiro filho do casal João de Paulo e Bertranda de Moras, camponeses profundamente católicos. Seus seis filhos receberam o ensino religioso em casa através de Bertranda. A família possuía terras e um rebanho de vacas, ovelhas e porcos. Vicente é encarregado de levar o rebanho a pastar e, seu olhar se perde na contemplação da natureza. Cedo, nele se manifestam a inteligência aguda, o olhar observador, o espírito vivo, o coração generoso e sincera devoção a Maria, o que motiva que os pais o encaminhem aos estudos eclesiásticos, ordenando-se sacerdote aos 19 anos. Fez seus primeiros estudos em Dax, onde após 4 anos, tornou-se professor. No ano de 1604 recebeu o título de bacharel, pela Universidade. Isto lhe permitiu concluir os estudos de teologia na Universidade de Toulouse. Foi ordenado sacerdote,aos dezenove anos, em 23 de setembro de 1.600 onde logo passou pela primeira provação: uma viúva que gostava de ouvir as suas pregações, ciente de que ele era pobre, deixou para ele sua herança - uma pequena propriedade e determinada importância em dinheiro, que estava com um comerciante em Marselha. No retorno desta viagem a Marselha, em 1.605, o navio em que se encontrava foi atacado por piratas turcos. Pe. Vicente sobreviveu ao ataque, porém foi feito prisioneiro.Os turcos o conduziram à Túnis, onde foi vendido como escravo. Vicente foi vendido para um pescador, depois para um químico; com a morte deste, ele passou para o sobrinho do químico, que vendeu-o para um fazendeiro (um renegado) que antes era católico, e com medo da escravidão, adotara a religião muçulmana. Ele tinha três esposas: uma era turca, que ouvindo os cânticos do escravo, sensibilizou e quis saber o significado do que ele cantava. Ela, ciente da história, censurou o marido por ter abandonado uma religião tão bonita. O patrão de Pe.Vicente, arrependeu-se,e propôs a ele uma fuga para a França, que só realizou-se 10 meses depois, já em 1607. Em uma pequena embarcação,eles atravessaram o Mar Mediterrâneo e conseguiram chegar à costa francesa, onde encontraram Vice-Legado do Papa. Vicente voltou à condição de padre e o renegado abjurou publicamente e voltou para a Igreja Católica. Vicente e o renegado ficaram vivendo com o Vice-Legado. Pe.Vicente durante a estadia na cidade freqüentou a Universidade, formou-se em Direito Canônico. E o renegado foi admitido em um Mosteiro onde se tornou-se monge. O Papa precisou mandar um documento sigiloso para o Rei Henrique IV da França e Pe. Vicente foi escolhido como fiel depositário. O Rei Henrique IV nomeou-o Capelão da Rainha Margarida de Valois, a rainha Margot. Como função ele distribuia esmolas aos pobres e fazia visitas os enfermos no hospital de caridade em nome da Rainha. Após o assassinato de Henrique IV da França em 1610, São Vicente passou um ano na Sociedade do Oratório fundada pelo Cardeal Pierre de Bérulle. Contudo, Vicente vive no mundo dos grandes e dos ricos. Esmoler da rainha Margarida e protegido da senhora De Gondi, até o dia que opta por se dedicar à instrução e ao serviço dos camponeses, sendo-lhe designada a paróquia de Châtillon, uma das mais problemáticas e desleixadas da região. Num domingo, ele recebe as notícias de uma família miserável que está a morrer. Estão todos doentes. Instados pelo seu sermão, os paroquianos se dirigem à casa da família e prestam auxílio. O cérebro de Vicente fervilha: "Eis aqui uma grande caridade," pensa, "mas está mal organizada." Idealiza, portanto, a criação de uma Associação, e, no dia 20 de agosto de 1617, com sua iniciativa nasce uma associação de mulheres, com o objetivo de visitar, alimentar e prestar aos enfermos todos os cuidados indispensáveis: Vicente funda a Confraria do Rosário, e todos os dias eram realizadas visitas os doentes. Em 1620, Vicente institui a Caridade dos Homens. As mulheres se dedicam aos doentes, os homens devem se dedicar aos velhos, viúvas, órfãos, prisioneiros. Homem de visão, Vicente de Paulo orienta as Confrarias, incentivando a organização de cooperativas agrícolas, ensinando novos métodos de cultivo da terra, implantando, nas cidades, pequenas manufaturas para produzirem objetos de uso na região e, finalmente, criando centros de aprendizagem onde as crianças indigentes possam receber educação cristã e aprender uma profissão, a fim de tirá-las à miséria.
Como poderia Vicente lhes falar das coisas espirituais? Necessário é lhes melhorar as condições, pois apodrecem vivos. O alimento é pão preto, a água é semi-poluída e os golpes de chicote são constantes. Naquele período, a Marinha francesa estava em expansão e para resolver o problema da mão-de-obra necessária para o remo, era costume a condenação às galés por delitos comuns. Vicente empenhou-se nesta missão, lutando por mais dignidade para estes prisioneiros, que viviam em condições sub-humanas. No trabalho em favor dos condenados às galés chegou até se colocar no lugar de um deles para libertá-lo. Interfere Vicente junto ao general das galeras, Manuel de Gondi e consegue realizar sensíveis mudanças. Oferece-lhes cuidados corporais, distribui alimento entre eles, consola-os, fala-lhes de Cristo e do Evangelho, chama-os de "meus filhinhos". Vicente ama. Por isso, mostra-se incansável na descoberta das misérias humanas de ordem material e espiritual, estendendo socorro pessoalmente e ou enviando as Damas da Caridade a hospitais, prisões, asilos, escolas, às ruas. Vicente é mestre na arte de conquistar corações. Consegue apoio de muitos nobres e ricos para atender os seus pobres. Tem amigos como a rainha Ana da Áustria que lhe manda ajuda material durante o longo período da guerra, que assolou a França, sustenta a obra das crianças abandonadas; Maria, duquesa de Aiguillon, que o auxilia em todas as suas obras caritativas; o rei Luís XIII, que visita e assiste os doentes, apóia e incentiva com bens materiais inúmeras obras vicentinas; Luísa de Marillac, que se torna excepcional trabalhadora, visitando e coordenando as diversas Confrarias da Caridade espalhadas ao redor de Paris. Desde os 35 anos de idade, Vicente conhece o trabalho da doença em sua própria carne. As pernas e pés incham. Chegará um tempo, 1645, em que já sente dificuldade para se manter a cavalo, para a realização das suas viagens. Aos 74 anos necessita ficar encerrado por longos dias em seu quarto, enquanto a febre se instala em seu corpo. Com dificuldade e o auxílio de uma bengala, consegue dar alguns passos. Contudo, dotado de indomável energia, ele profere palestra, todas as manhãs aos seus discípulos, demonstrando serenidade e lucidez, apesar das dores atrozes que o atormentam. Diante da morte iminente, brinca: "Em breve enterrarão o miserável corpo deste velho, e se transformará em cinzas e o pisarão com os pés." Então, em 27 de setembro de 1660, antes que o sol se levante sentado numa poltrona, perto do fogo, Vicente desencarna. Era um pouco antes das cinco horas da manhã, hora em que habitualmente Vicente se punha em oração. Os pobres, mais do que ninguém, lastimam a morte do seu benfeitor e amigo, seu pai. Referindo-se a ele, o espírito de Francisco de Paula Vítor, pela psicografia de Raul Teixeira, escreve: "Verdadeira luz a brilhar, no seio do séc. XVII, seus exemplos de dedicação e fidelidade ao Mestre Jesus contagiam inumeráveis corações que, depois dele, investem tempo e vida aos serviços portentosos em prol da instalação do reino dos céus na Terra." E esta figura ímpar, se faz presente como um colaborador do Consolador Prometido, assinando as respostas às questões de número 888, 888 a em O livro dos espíritos, onde igualmente assina, junto com outros espíritos eminentes, Prolegômenos; nas mensagens de nº. XX e XXVI do cap. XXXI de O Livro dos Médiuns e o item 12 , do cap. XIII de O evangelho segundo o espiritismo. Nesta mensagem, especialmente, é que derrama o perfume do seu coração, externando: "A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de salvação; é a mais pura emanação do próprio Criador (...)"
Fonte: Duarte, Luiz Miguel. Vicente de Paulo, servidor dos pobres. Ed. Paulinas.
Teixeira, J. Raul/espírito de Francisco de Paula Vítor. Ed. Fráter. cap. 8. -Jornal Mundo Espírita - Maio de 2001