Helen Duncan

 

 

Helen Duncan

Helen Duncan nasceu em Portshire (Escócia), no ano de 1898. Sua família era pobre, e desde cedo ela ajudava no sustento dos pais como trabalhadora braçal.

Sabe-se que desde criança ela mostrava possuir dons mediúnicos, mas ninguém em sua família encorajava-a.  Sua mãe, em especial, assustava a dizendo que médiuns acabam na cadeia. Porém, dons tão extraordinários como os de Helen são difíceis de esconder, e aos poucos ela ficou conhecida.

Casou se muito jovem. Seu esposo Henry Duncan foi ferido durante a Primeira Guerra Mundial e ficou incapacitado para o trabalho. Helen foi uma trabalhadora de poucos recursos tinha então de trabalhar como lavadeira para sobreviver.

Dos doze filhos que o casal teve, apenas seis sobreviveram às doenças e dificuldades . No ano de 1930, patrocinada pela União Espiritualista Nacional (SNU), ela começou a fazer demonstrações públicas; aos poucos suas faculdades se aprimoraram, por ser médium de efeitos físicos. Recebia espíritos e estes se materializavam. A escocesa atuava como médium profissional, contudo, frequentemente usava os recursos obtidos para auxiliar no atendimento aos doentes que não podiam pagar pelo tratamento médico. Realizava sessões em igrejas espiritualistas, seu trabalho era intermediar o contato entre os militares desencarnados em batalhas da Segunda Guerra com os familiares ansiosos por notícias.

 

 

 Conheceu seu mentor espiritual, Albert Stewart, que também se materializava e conversava com os assistentes, dando detalhes sobre suas vidas a outras provas impressionantes. 

Alguns dos espíritos que se materializavam nas sessões davam seus nomes e falavam sobre a forma como tinham morrido e a respeito de fatos desconhecidos até dos assistentes, os quais os anotavam para posteriormente checá-los. Outros espíritos, conhecidos de parentes e amigos que estavam na sala, aproximavam se deles, mostrando certos sinais que os caracterizavam (como verrugas, cicatrizes, etc.). Em certa ocasião, um desses espíritos desmaterializou-se de um modo que estarreceu os que assistiam ao fenômeno: ele começou sua desmaterialização pelos pés, e quando chegou á cabeça, esta estava no chão!

 


Porém, sua mediunidade também apresentava outro recurso, e foi esta outra capacidade que a colocou em confronto com autoridades militares e judiciais.

Em 1941, durante uma reunião mediúnica, ela recebeu a informação que o Encouraçado HMS Hood, pertencente à Marinha Real Inglesa, tinha sido afundado. O afundamento realmente tinha ocorrido, mas a notícia ainda não tinha chegado ao conhecimento do público. Dois anos depois ela anunciou o afundamento de outro navio de guerra, desta vez foi o HMS Barham; a Marinha somente anunciou tal ocorrência três meses depois. A partir destes dois acontecimentos sua vida mudou completamente.

 

Helen Duncan não materializava somente figuras humanas mas também animais. Quando as materializações eram de pessoas, estas apareciam trajadas de um branco luminoso a radiante. Alguns desses espíritos materializados também falavam, e suas vozes eram completamente diferentes tanto da do mentor de Helen quanto da voz da própria médium. 

Como alguns incrédulos dissessem que Helen escondia artigos debaixo de sua roupa, a médium deixava-se examinar severamente por um grupo de mulheres e vestia depois calças pretas, bem justas, e sapatos ou botas. Quanto à suspeita de que o ectoplasma não passava de gaze rala que ela engolia antes da sessão e depois regurgitava, um médico dispôs se a examiná-la, tirando chapas de seu esôfago; tanto o exame quanto as chapas provaram que o esôfago da médium era perfeitamente normal, e que ela não tinha condições de engolir a gaze para depois regurgita-la. 

 

Os incrédulos, não satisfeitos, pediram a Helen que engolisse alguns tabletes de metileno,  o que tingiria de azul tudo o que saísse de seu estômago. Ela consentiu  e o ectoplasma continuou saindo, não só da boca, como dos outros orifícios de seu corpo, muito alvo e luminoso. Com todas essas controvérsias, Helen continuou fazendo suas sessões de materialização até o ano de 1944,  o penúltimo da II Guerra Mundial.

Naquela ocasião, Helen fora convidada para uma série de apresentações na cidade portuária de Portsmouth- é bom que se esclareça que aquela região era um alvo constante dos bombardeiros alemães - , em janeiro de 1944, seria a data de sua primeira apresentação. Cerca de trinta pessoas estavam presentes. A médium, cuidadosamente examinada por um grupo de senhoras do local, entrou na cabine e a sessão iniciou-se com o surgimento de duas figuras humanas. No momento em que a terceira estava emergindo, um policial de nome Cross, sentado na terceira fileira, derrubou a cadeira que estava à sua frente e tentou agarrar a figura materializada. Outro homem acendeu um farolete e soprou um apito. Sem mais nem menos, um grupo de policiais invadiu o recinto.  O chefe levava um mandado de prisão contra Helen. Enquanto isso, Cross sentia que segurava na mão um pedaço de gaze, mas este desaparecera inexplicavelmente. Não havia homem algum por perto, e nem na sala encontrou-se alguém parecido com o mentor de Helen Duncan. A médium, contudo, começou a passar mal e pediu para que chamassem um medico; quando Cross perguntou lhe onde estava o pano, ela só conseguiu dizer que ele sumira: era ectoplasma, "tinha que sumir". 
 Porém, a acusação de Cross foi tão firme que o promotor aceitou seu testemunho e indiciou Helen e outras três pessoas de seu grupo por violarem a lei contra vadiagem, foram encarceradas, por quatro dias na prisão feminina Halloway, para onde eram enviadas mulheres acusadas de assassinato, espionagem e traição.

De forma inesperada a acusação foi alterada de vadiagem para conspiração. Logo em seguida, a enquadraram em uma antiga lei, a Witchcradt Act (Ato de Feitiçaria), de 1735, criada no tempo da Inquisição.

Pelo que os espiritualistas ingleses apuraram já, havia um grande interesse em fazer crer que Helen fosse uma fraude. Além disso, surgiu um rumor que sua prisão fora realizada para que ela não revelasse a data em que os aliados pretendiam realizar do “Dia D”. A paranóia parecia ter alcançado seu ápice; uma simples trabalhadora, dona de casa tornara-se uma ameaça às potências militares? Helen saiu do tribunal em lágrimas. Seu destino era a cadeia, de onde só saiu após ter cumprido integralmente a pena.
Testemunhas surgiram em sua defesa de todas as partes da Grã-Bretanha; elas contavam os fatos que evidenciavam não somente os dons mediúnicos de Helen, mas sua predisposição em auxiliar na consolação de parentes aflitos. Entre elas se apresentou o respeitado acadêmico e profundo conhecedor da obra de Shakespeare, Alfred Dodd, que comprovou ter estado em uma reunião, quando seu avô se materializou. Também o conhecido jornalista e co-fundador da revista espiritualista “Psychic News” (Notícias Psíquicas), Hannen Swaffer, esteve presente e rebateu as acusações de que o ectoplasma oriundo da médium era feito de uma mistura amanteigada. Outro que testemunhou em favor de Helen, foi o jornalista e historiador inglês James Herries Beattie, que alegou ter assistido a uma materialização de Arthur Conan Doyle, durante uma reunião com a médium.

A defesa de Helen Duncan sugeriu algo que colocou a acusação em uma difícil situação. Realizariam uma sessão mediúnica perante a corte inglesa para provar a veracidade das alegações da defesa. Eles amarraram Helen com 40 jardas de corda e a manietaram na com algemas policiais. Seus polegares foram amarrados juntos com 8 jardas de linha de costura, tão apertada que cortou a pele da médium. Apesar de todos esses cuidados, os fenômenos continuaram inalterados.

Mas não havia possibilidade de escapatória para Helen. Se ela e suas testemunhas alegassem que a gaze era ectoplasma e as figuras eram materializações, incidiria na lei contra a bruxaria; caso contrário, ela estaria incursa na lei contra vadiagem, por praticar atos para fraudar os assistentes.O tribunal não chegou a um consenso e a sessão não se realizou. Depois de 20 minutos de deliberação, o júri condenou a médium a nove meses de prisão. Motivo: bruxaria.

O movimento espiritualista ficou chocado com a decisão, ainda mais considerando que a lei em que foi baseada a decisão tinha mais de duzentos anos. Ainda assim foi negada a possibilidade de apelação e Helen foi encarcerada.

Relatos dão conta que durante os meses de reclusão, a porta de sua cela nunca foi trancada pelos guardas da prisão e sempre era franqueado o acesso a visitas.

Até mesmo o Primeiro Ministro inglês Winston Churchill saiu em sua defesa, escrevendo uma nota para o secretário do governo. No entanto, sua lógica apelativa não encontrou aceitação e ela continuou presa.

Vale a pena realizarmos uma pequena pausa para tratarmos acerca de um episódio interessante envolvendo o Primeiro Ministro. O fato está contido em sua autobiografia:

Durante a Guerra Bôer, que ocorreu na África do Sul, entre 1899 a 1902, e que envolveu de um lado os ingleses e de outro os africânderes, Winston era um correspondente de guerra. Ele foi capturado e depois conseguiu escapar. Utilizando método semelhante ao da “planchette”, ele consultou Espíritos e ficou sabendo de uma casa a trinta milhas de onde estava, na qual os moradores eram simpatizantes dos ingleses. No local ele foi recebido e contou com a proteção até ser resgatado pelo exército inglês; caso batesse em outra casa poderia ter sido novamente aprisionado.

Por influência de Churchill, o Witchcraft Act foi revogado em 1951, uma vitória para os espíritas e os espiritualistas, que podiam exercer a Mediunidade sem o temor da opressão.

Retornemos aos relatos envolvendo Helen e seu martírio.

Sob juramento de não mais realizar sessões mediúnicas, Helen foi solta em 22 de setembro de 1944. Contudo, o apelo mediúnico foi muito forte e ela voltou às atividades.

Todavia, a intolerância ainda possuía profundas raízes. Em novembro de 1956, a policia invadiu uma sessão na cidade de Nottingham. Agarraram a médium que estava em pleno trabalho de materialização, em profundo transe e fizeram uma revista corporal, alegando procurarem máscaras e barbas que evidenciassem uma fraude. No início de sua Mediunidade os Espíritos orientadores tinham dito que ela jamais poderia ser tocada enquanto a materialização estivesse em andamento, sob pena de trazer danos irreparáveis. Helen Duncan passou mal e foi levada para atendimento médico. O profissional descobriu que ela estava com graves queimaduras no estomago. Ela foi levada de volta para sua casa e depois hospitalizada. Cinco semanas depois desencarnou em virtude das queimaduras.

Seu processo beneficiou grandemente os médiuns: em 1951, a lei contra a bruxaria foi revogada pelo parlamento britânico, e equiparou-se o espiritualismo às outras religiões tudo isso causado pela condenação da médium de Portshire.
 

Um busto de bronze homenageia Helen Duncan em Callander, Escócia, sua cidade natal.